sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Manual sobre como (quase) se ferrar no Chile.

Olá pessoal! Hoje o post vai estar mais descontraído, pois nao quero ficar mais puto do que já fiquei nestes últimos dias. Sendo assim, vou pelo menos tentar ser bem humorado.

Parte 1 - A bicileta.




Na Ilha de Chiloé, próximo à cidade de Ancud, existe um lugar que se chama "Pinguinera". Obviamente voces já deduziram que alí nossos amiguinhos pinguins podem ser observados. Eu nunca havia visto um. Eis que tenho a "brilhante" idéia de alugar uma bicicleta e pedalar até là! Tcharam! Acordei cedo, tomei um café da manha reforcado, passei na loja que aluga as magrelas e me mandei rumo ao oceano pacífico. Pelos meus calculos seriam uns 40 km pedalando. 20 para ir, 20 para voltar. Na primeira parte do caminho, depois de alguns kilômetros pela "costanera" - estrada que acompanha a beira do mar - resolvi dar uma passeada por uma das praias. O mar estava um pouco revolto e as gaivotas, pra variar, gritavam. Fui pedalando pela praia mesmo durante uma meia hora até alcançar a costanera novamente. Tudo muito bom, tudo muito bem. De volta ao asfalto, comecei a apressar o pedal para chegar à pinguinera.

Quem pedala sabe que alegria de ciclista dura pouco. Depois de uma descida maravilhosa, com vento na testa e um belo visual, sempre, mas sempre ela vem: a subida. Pra quem é de Cuiabá eu juro, mas eu juro que essa que eu peguei era no estilo da rampa do Colégio Maxi. Nao teve jeito. Precisei descer da magrela e ir empurrando. Que vergonha! Depois de vencer a ladeira, tive uma surpresa um tanto desagradável: acabou o asfalto, metade do caminho era de terra. E foi entao que matei a saudade do interior matogrossense, onde há um fenomeno tipico na topografia de estradas da regiao, popularmente chamado de "costela de vaca". Mesmo com um bom amortecedor, isso faz você chacoalhar como se a bike se transformasse em uma britadeira. Percebi que a aventura estava ficando radical. Mal sabia eu que isso nao era nem a ponta do iceberg.

De repente, sem mais nem menos, sem nem um trovaozinho de aviso, começa a chover. Estrada de terra + costela de vaca + chuva: o resultado vocês já imaginam. Nao, eu nao tomei um tombo, hehe! Mas a pedalada ficou com o dobro de dificuldade. Tava mais fácil zerar Mortal Kombatt no hard. A sorte é que eu tive uma das minhas escassas idéias inteligentes: levar uma capa para nao molhar a mochila e a camera fotográfica.

Muita ladeira, água e lama depois, cheguei na tal pinguinera: um mar cinza e violentíssimo, que rebentava contra os penhascos e ilhotas pontiagudas. Mesmo sem as cores que nós brasileiros estamos acostumados e ver em praias, aquilo era um espetáculo bonito. Furioso, mas bonito. Na beira da areia havia 5 restaurantes. Perguntei pra um cidadao qual era o mais barato, e ele me apontou o ultimo deles. Alí comi salmao pelo menor preco da minha vida: 10 reais.

Tá, mas vocês devem estar se perguntando: "e os pinguins nessa história?". Surpresa! Estavam a muitos e muitos metros de distância, acessíveis somente a gringos endinheirados para pagar um tour de barco pelas ilhotas onde eles descansam.

Depois de tirar mais algumas fotos, e ver pontinhos brancos parecidos com pinguins, decidi rumar de volta para Ancud, afinal já eram 15:30 e eu teria que devolver a bicicleta às 18:00. Ainda nas primeiras pedaladas o inferno começou. Uma ventania violentíssima, acompanhada de chuva e um frio do cao! Simplesmente nao tinha como pedalar. Eu fazia toda a força do mundo e nao saia do lugar. Tinha que ir andando. Dentro de poucos minutos eu estava todo molhado. A jaqueta, o gorro, as botas, tudo! Adotei a seguinte estratégia: subidas andando e descidas pedalando. Mesmo assim as descidas eram muito perigosas. Nao foram poucas as vezes que uma rajada de vento lateral quase me derrubou. Depois de 10 km andados-pedalados, comecei a sentir algo bem parecido com medo. Estava ficando tarde, e em 1 hora e meia eu tinha percorrido somente 10 km. As pernas estavam esgotadas, a chuva cada vez mais pesada, o frio mais intenso. Comecei a pedir carona para todos os carros que passavam. Alguma alma boa havia de me tirar dessa enrascada.

Nesse dia eu entendi porque jesus nasceu numa manjedoura e nao numa cama de luxo com travesseiros de pena de ganso. Passavam centenas de caminhonetes de luxo, com suas carrocerias vazias, a uma velocidade estúpida. Nenhuma parava, nem pra saber o que eu tinha acontecido, se a bicicleta tinha quebrado, nada. Depois de mais uma hora, quando eu já estava muito, mas muito cansado mesmo, um caminhaozinho transportador de lenha, todo caindo aos pedaços, parou, e me salvou. Nesse dia, apesar de tudo que deu errado, o meu anjo da guarda me salvou, e dentro de alguns minutos eu estava na cidade de Ancud. Todo molhado e com frio, mas a salvo.

Pensei muito para postar essa história, porque sei que minha mae vai puxar minha orelha quando eu voltar pro Brasil, heheh. Desculpa mae!

Parte 2 - tentando sair de Chiloé.

Fiquei mais um dia em Ancud descansando e pensando o que fazer da vida. De aventuras radicais eu já estava satisfeito. Só queria um lugar bonito para passear e descansar. Resolvi ir para Castro, uma cidade no centro da ilha. A viagem foi curta, cerca de duas horas. Cheguei, encontrei um albergue barato e fui dar uma volta. Esta noite o frio pegou! Estava com uma camisa de manga longa, duas jaquetas, gorro, capuz e luva, e ainda sentia frio.

Em Castro nao achei nada de interessante para fazer e gastei quase todo meu tempo na internet. Muito entediado, resolvi que no próximo dia voltaria para Puerto Montt, almoçaria alí e já pegaria outro ônibus para Santiago, onde iria passar meus ultimos dias no Chile. E entao, hoje pela manha, peguei o tal onibus para Puerto Montt. Eis que depois de apenas 15 minutos de estrada, o busao para. Lá na frente só via uma fumaceira danada, e muita gente. Pensei que fosse um acidente, mas depois de 1 hora (sim! 1 hora parados na estrada!), vimos que era apenas uma manifestaçao. Sem faixas, sem palavras de ordem, sem um porque aparente. Até agora estou tentando descobrir porque aquelas pessoas estavam queimando pneus na autopista. O pior é que quando finalmente escapamos do piquete, os manifestantes nos deram um "tchauzinho" acompanhado de gargalhadas. Brincadeira meu!!

Quando finalmente chegamos em Ancud, o ônibus parou no terminal para pegar mais passageiros. Eu já estava morrendo de fome e sede. Perguntei a um dos motoristas de havia tempo para comprar um refrigerante. Ele, gentilmente me disse que sim. Lá fui eu a um balcao da rodoviária tentar matar a sede. Entao, quando olhei pra tras por acaso, sem mais nem menos o onibus ja estava saindo. Saí correndo, desesperado a dar a volta no terminal, para alcançá-lo do outro lado. Se eu perdesse esse onibus, estaria muito, mas muito ferrado. Alí estava minha mochila, minhas roupas, minha maquina fotográfica e boa parte do meu dinheiro. Por sorte o alcancei a tempo, já na saida do terminal. Indignado, abri os bracos para o motorista e perguntei o que havia acontecido, já que ele me disse sim, havia tempo para comprar um refrigerante. Me respondeu com um curto e grosso: "estamos atrasados". Que lindo! Estao atrasados, e largam os passageiros pelo caminho levando todos os seus pertences! Nem sequer chamam ou buzinam para avisar que o onibus está saindo. Foi sorte eu ter olhado para trás.

Bufando de raiva, ainda tive que esperar por mais uma hora para atravessar o canal de Chacao rumo ao continente, pois o tal motorista nao se decidia entre as plataformas de embarque, e perdemos duas balsas. Entao, depois de uma viagem que era pra durar 3 horas e durou 6, estou em Puerto Montt, de onde escrevo, pois todos os onibus de hoje para Santiago estavam lotados. Só saio daqui amanha às 4 da tarde.

Espero que eu acorde com o pé direito!

7 comentários:

  1. mermaõoo do céu que sufoco
    graças a Deus vc esta bem agora
    cuidado!!!

    ResponderExcluir
  2. E ainda sozinho!!! Chega de aventura, por favor!!! (Mas que é bonito é!)
    bjão

    ResponderExcluir
  3. Você mata a sua mãe, guri!!

    Mas ó, os apertos fazem parte, né?!
    O grande problema é que nós não podemos prever os pepinos. Eles são os mais inacreditáveis possíveis!

    Se cuida, fica de olho no seu busu, não confie em motoristas chilenos e não se esqueça de enxergar o aprendizado.

    Coisa que aprendemos apenas quando estamos na merda: a importância da paz de espírito.

    POr isso, como sabiamente São Francisco pregava, te desejo PAZ E BEM!

    Um beijo

    ResponderExcluir
  4. Descobri que eu tenho olho na nuca. Foi a segunda vez que me safei por olhar pra trás. A primeira foi no dia que bati o carro. Tava pegando o triângulo no porta-malas, e só deu tempo de saltar para o lado enquanto outro carro bateu na traseira do meu. Quase fico sem as pernas!!

    Hehhe

    ResponderExcluir
  5. Lucas, mesmo sem pingüins Chiloé jamais será esquecida. Os bacanas, em suas caminhonetes velozes e luxuosas, mesmo com os pingüins e comendo na primeira barraca, talvez não a tenha mais na memória.
    Abraço e força,
    Almir.

    ResponderExcluir
  6. Nossa, o César disse tudo! Quem sabe daqui um tempinho vc não possa dar risada dessa história? (por favor nao me fuzile agora, hehehe)

    Melhor sorte em Santiago. Se cuida
    Abraços

    ResponderExcluir
  7. jajajajaaja nunca confies en un chofer de Bus! s eme olvidó decirtelo... disculpame... continúo orando por tí.
    un gran abrazo!

    que bueno que estuviste con mis papas de nuevo!
    eso me dejó muy feliz.

    ResponderExcluir

Comente! Participe deste post! E não esqueça de deixa seu e-mail para contato.